sexta-feira, 5 de agosto de 2016

“Não existe o acaso nem a coincidência… Nós caminhamos todos os dias para lugares e pessoas que nos esperavam desde sempre.” - Relatório final de Estágio universitário voluntário no exterior de Veronica Urbani - UNIPD, Itália

“Não existe o acaso nem a coincidência… Nós caminhamos todos os dias para lugares e pessoas que nos esperavam desde sempre.”
É com essa frase da escritora G. Dembech que decidi começar contar a minha maravilhosa experiência.

Essa viagem começou bem antes da minha chegada ao Brasil, não saberia dizer exatamente quando, mas era muito tempo que tinha o desejo de fazer uma experiência em outro país que  fosse  diferente dos  passeios comuns  – férias com os amigos. Estava querendo partir,  conhecer uma nova cultura,  encontrar novas pessoas e estilos de vida.  Quebrar a minha rotina e entrar em sintonia com ritmos novos. Quando eu parava para imaginar, de jeito pensava na  América Latina, a alegria,  aos jeitos calorosos nos relacionamentos humanos, a energia que poderia ter. 
Até aquele momento tudo  só existia na minha imaginação. Durante uma palestra na universidade, esse sonho começou a ter forma e nome: ‘Progetto BEA’.

Escolhi este projeto por que gostava da ideia de não deixar definitivamente o âmbito da faculdade, mas ao contrário, de poder prosseguir com os estudos e ao mesmo tempo realizar o meu estágio formativo.
Equipe BEA 2016.1
Quando chegou o momento de escolher a instituição de estágio entre as demais da rede de colaborações do Progetto BEA quis me dar a oportunidade de mesurar-me como profissional em um âmbito no qual  nunca tinha trabalhado: o da FUNASE CASEM -  Fundação de Atendimento Socio-educativo, o órgão responsável pelo atendimento do adolescente sob medida sócio-educativa de restrição e/ou privação de liberdade.  Casa de semiliberdade por adolescentes de sexo masculino  que tiveram problemas com a lei. Foi uma escolha “desconfortável” que, como imaginei, me permitiu de crescer muito tanto nas minhas competências profissionais tanto como ser humano.
Não nego que no começo as dúvidas foram muitas “Será que conseguirei?”, “Estarei capaz de criar ligações com os adolescentes?", “O que irei fazer? ”

Comecei o meu estágio na CASEM na segunda feira dia 4 de abril de 2016,  e naquele momento a instituição estava cuidando de  12 adolescentes. Minhas dúvidas, que existiam no começo, foram solucionadas logo pelos próprios adolescentes que tinham  curiosidade em conhecer, se as pessoas  do meu país têm a cor da  pele  branca e falam com o  mesmo sotaque que eu. Eles  me acolheram, permitiram que eu entrasse a fazer parte das suas rotinas.

Por me apresentar e por os fazer conhecer as minhas origens,  na  primeira semana, de acordo com a equipe técnica, realizamos a ‘Semana italiana’.  Mostrei vídeos, fotos, músicas da minha Itália e juntos comemos uma verdadeira macarronada italiana.

Os momentos da noite me deram as melhores lembranças. Depois de dias cheios de atividades chegava o cansaço  (para todos!), as barreiras que durante o dia nos distanciavam (uns dos outros)  baixavam-se e assim em um clima sereno quase familiar sentados no sofá  assistíamos ao Velho Chico, ou se ouvia  Marília Mendonça. Uma noite D. me ensinou a dançar o reggae, uma outra vez L. F. J. D. Me ensinou o Forró com típicos chapéis de palha de Quadrilha, cantamos, brincamos e depois chegavam aqueles momentos mais profundos, intensos,  íntimos ... sobre as histórias da Vida deles.

Para me fazer sentir “em casa” contribuíram os diversos profissionais que trabalham na CASEM, as funcionárias da administração, os porteiros as guardiãs , as cozinheiras, os motoristas. Com todos eles criei uma ótima relação, mas  essa experiência foi sem dúvida tão completa e profunda pelo suporte, pela disponibilidade, paciência e amizade que a inteira equipe técnica sempre me demonstrou. Com elas nunca me senti no lugar errado, foram verdadeiras guias.  Me fizeram sentir parte delas,  parte da grande “Família CASEM”.
 Com a equipe técnica da CASEM
Com a supervisão e os conselhos da coordenadora técnica Dona Maria Das Graça de C., da coordenadora pedagógica Márcia Dias C.B., da psicóloga Liane M., da assistente social Ana Valina B.L. e enfim de Mônica Rodrigues L.C. a advogada,  tive a oportunidade de conhecer quase completamente a instituição a onde trabalhei. Além disso, pude participar das atividades internas e externas dos adolescentes, aos atendimentos, as visitas domiciliares, esteve ao lado  da pedagoga nas reuniões com os dirigentes escolares e visitei as instituições que colaboram com a CASEM (os serviços de saúde, a agência de trabalho, etc) Ademais, tive o prazer de conhecer a Vara da infância e de me apresentar ao Juizado de menores na cidade de Petrolina.
Com a inteira equipe reunida, o primeiro dia de estágio, compartilhei os meus objetivos acadêmicos confrontando-os com aqueles específicos da CASEM.
Dividi os meus objetivos nas três macro áreas do Saber, Saber Fazer e Saber Ser como a seguir:
SABER
  • Conhecer em profundidade o lugar onde eu  farei o meu estágio ( a sua
  • Missão/ Mission, o estatuto, as finalidades e os valores que caracterizam a FUNASE CASEM ).
  • Estudar os documentos que fundam a legislação das crianças e adolescentes no Brasil (ECA) e no específico no Pernambuco.
  • Conhecer e compartilhar a cultura brasileira: os costumes, os hábitos, as crenças, a história e o idioma.
  • Ter conhecimento mais específico sobre o método do Service Learning.

SABER FAZER
  • Adquirir capacidades, habilidades e estratégias educacionais que me permitem  agir - em contextos como o FUNASE Casem ou parecidos – no imediato em modo certo e eficaz.
  • Criar uma relação empática com os meninos que tem fé os princípios de intencionalidade, assimetrias e “direita distância”, reflexividade e educabilidade.
  • Aprender como trabalhar da melhor maneira da todas as pessoas da equipe sócio- psico- pedagógica (pedagoga, psicóloga, assistente social).
  • Ampliar as capacidades e as competências por conseguir na condução de atividades e de gestão de um grupo de adolescentes através de uma oficina de Arte e Teatro. corporal onde os meninos podem experimentar eles mesmos no contexto protegido.
  • Aumentar as capacidades reflexivas sobre as práticas por monitorar a aprendizagem em cada nível através a prática/serviço. 

SABER SER
  • Manter uma atitude de Abertura e de Curiosidade que me permite envolver-me em todos os momentos dessa experiência.
  • Ampliar uma Escuta Ativa autêntica e uma atitude de Empatia.
  • Permitir que aconteça uma Acomodação (como teorizou Piaget) das experiências e das boas práticas que vou aprender durante o estágio para fazer-me amadurecer como pessoa e como educadora.

Após ter me inserida nas atividades já estabelecidas pelo programa, como a festa do Dias das mães e o Arraiá do Casem, tive a oportunidade de propor uma minha oficina de teatro corporal. Esta oficina fez parte também de um Projeto de Extensão da UPE, Campus de Petrolina a onde pude assistir as aulas de Relações interpessoais e dinâmicas de grupo, do Curso de Pedogogia, ministradas pelo Prof. Nicola A..
Eu e Natália Dos Santos A. G., colega do curso acima citado, tivemos a grande oportunidade de experimentar na prática os conteúdos teóricos do curso. Planejamos e conduzimos 6 encontros no parque municipal Josefa Coelho da cidade com os adolescentes e a equipe técnica do CASEM.
Oficina no Parque Josepha Coelho
O fio condutor que juntou todos os encontros foi o tema "A Comunicação Assertiva e a Escuta Ativa" e a cada um dele nos abordamos uma temática específica: Confiança, Eu, Tu, Nós, Comunicação Assertiva e Escuta Ativa.
Tenho certeza que esse projeto sem a colaboração de Natália e a supervisão de Nicola não teria tido o mesmo resultado final.
E foi na UPE, Campus de Petrolina que tive a oportunidade de ampliar o meu saber, experimentando um novo modelo de universidade, mais dinâmico e participativo.  
Para o meu estágio, um momento altamente formativo foi a reunião de cada sesta feira pela manhã com a minha colega italiana Miriam De M. e o coordenador Nicola A. (a Equipe BEA 2016.1).
O Progetto BEA é o Coração de uma pesquisa de doutorado Sanduíche entre a UNIPD (Padova, Itália) e a UNEB e a equipe semanal focava-se sobre a constante reflexão teórica sobre a experiência prática através do Ciclo do Service Learning (Aprendizagem e Serviço). Acho que isso que fez a diferença no meu nível de aprendizagem.

Já escrivei muito eu sei ... mas ainda  não terminei!

UNEB, Campus de Juazeiro
Para dar mais uma bela pintada de cor nessa experiência, vou contar agora do Curso de língua e cultura italianas no Departamento de Ciências Humanas da UNEB, no Campus de Juazeiro.
Nunca me imaginei como professora, figura que sempre percebi como formal demais e que precisava de  distância, mas tive a possibilidade de me experimentar ao lado do coordenador, propondo aulas dinâmicas e com brincadeiras  permitindo aos estudantes de aprender e se divertir tanto quanto em mesma me diverti.

UNEB - A culminância do Curso
Fiquei tão bem com os alunos que uma vez que o curso oficial acabou, continuei com alguns deles com aulas de conversação no parque, na praça, na praia...
Nesses meses me senti parte de tantas coisas Grandes, parte de um Tudo. Encontrei pessoas que me parecia de conhecer a muito tempo. Percorri ruas de uma forma como se os meus passos já tivessem percorridas. Em Petrolina e Juazeiro deixei parte de mim e levei comigo muito mais:
Olhares, aperto de mãos, risadas, cheiros, cores, comidas, sons, ritmos, pores do sol, danças, a calma que me deixava tranquila em quanto esperava a barquinha, harmonia, festas, o doce de leite depois do almoço com a minha equipe, abraços e muito mais que as palavras não conseguem descrever.

Agora que estou em Itália não tenho a percepção de ter acabado a experiência, será  que em setembro chegarão duas amigas-colegas da UNEB, será que os contatos com os amigos estão sempre vivos, mas por enquanto estou vivendo isso reencontro como um final aberto: a Vida é longa e quem sabe quais lugares e pessoas estão prontas para me conhecer ou me encontrar de novo!!
Quero agradecer o Nicola que aquela vez teve uma fantástica ideia ao inventar um “Nicola Andrian” assim! Sem você tudo isso não teria sido possível. Para você, com que me confrontei, aprendi e cresci: Obrigada!
Obrigada a minha companheira de aventura Miriam que me ajudou a crescer superando e compartilhando os momentos felizes e também aqueles mais difíceis. Sem ela ao meu lado não teria sido a mesma viagem.
Enfim o meu Obrigada mais profundo vai aos meus adolescentes, a cada um deles por ter me acolhido, pelas brincadeiras, pelas piadas, por tiver me permitido de entrar nas vidas de vocês pelas disponibilidades de vocês ao falar a vossa história e assim dar uma parte de vocês a qualquer um outro. E entre todos um Obrigada especial vai a uma Alma maravilhosa, agora totalmente livre no mundo, que mudou a minha vida com a sua próprio. A você que com o seu “Mundo na cabeça” me permitiu de aprender como as vezes não precisam palavras, o que importa são Cabeça, Mãos e Coração.
Veronica

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